terça-feira, 24 de maio de 2016

Pouch Sling para Recém-nascidos

Recentemente me deparei com a informação de que o pouch sling não seria adequado para recém-nascidos. Alguns profissionais apontam que a postura deitada em rede faz com que o queixo do bebê fique muito colado ao peito, podendo ocasionar o fechamento das vias respiratórias e consequente asfixia. Como mãe e fabricante de slings, não posso estar alheia às estas discussões e considero que qualquer questão acerca da segurança dos produtos destinados à bebês e crianças deve receber atenção especial.

Com a popularização do uso dos slings vieram à tona muitas questões relacionadas à sua segurança e modos corretos de uso. De carregadores artesanais e tradicionais os slings começaram a passar por uma série de estudos e avaliações de inúmeros profissionais ligados à infância; como pediatras, fisioterapeutas, ortopedistas e consultoras em babywearing - termo americano para a prática de carregar bebês no pano. Organizações e associações formaram-se com o propósito de estudar e difundir estas práticas, propagando informações e regulamentações sobre os carregadores de pano, e buscando oferecer embasamento científico para esta técnica tradicional. Entretanto, embora já tenhamos bastante informação disponível ainda considero difícil encontrar informação segura e de qualidade. Após muita pesquisa ainda ficamos com a impressão de que cada profissional tem um posicionamento diferente. 

Após muitas pesquisas recolhi algumas informações sobre segurança dos slings, em especial do pouch, que considero importante compartilhar para que cada família possa, conscientemente, optar pelo uso ou não deste modelo com recém-nascidos, avaliando suas vantagens e desvantagens.

1. Qualquer sling, para ser seguro, deve segurar seu bebê da mesma maneira que você o seguraria em seus braços (os carregadores que usamos nas costas são uma exceção, pois ainda assim, se utilizados corretamente, podem ser seguros). Esta imagem ilustra bem claramente estas posições:


2. É importante observar que o bebê não fique numa posição completamente horizontal, de modo que estaria afundado dentro do saco, mas que mantenha-se em diagonal, com a cabeça mais elevada que o tronco. Você sempre deve ser capaz de ver a cabeça e o rostinho do bebê sem ter que abrir o sling para isso, e ele deve sempre ser capaz de respirar livremente e com facilidade, com o pescoço reto e cabeça em posição neutra, sem comprimir o queixo no peito. Os bebês menores precisam sempre de um suporte na nuca, ajuste o tecido sob a sua cabeça de modo que ela fique bem apoiada, sem tombar muito nem para frente nem para trás.

3. Para usar um pouch com segurança o tamanho deve ser adequado à você. O pouch sling é feito sob medida, ou em grade de tamanhos que vai do PP ao GG. Este carregador deve situar o bebê na altura do seu umbigo. Se o pouch estiver pequeno ele ficará muito apertado tanto para você quanto para o bebê, e o bebê ficará muito alto. Se o pouch estiver grande ficará muito frouxo e o bebê ficará muito baixo, causando um balanço ao caminhar que o deixa em posição insegura, além de lhe causar desconforto e prejudicar sua postura e equilíbrio.

4. Evite colocar o bebê no sling usando roupas desconfortáveis, muito quentes, muito apertadas, de tecidos muito grossos ou duros que possam prender sua circulação e marcar a pele.

5. Esteja SEMPRE atento ao seu bebê. Seja no sling, no colo, no carrinho, no berço ou no tapetinho, bebês nunca devem ficar desassistidos e a verdadeira segurança é proveniente da atenção dos cuidadores. Observe sempre o bebê, se ele está confortável, tranquilo, e qualquer desconforto que você observe deve-se ajeitá-lo no sling, mudar sua posição, e buscar deixá-lo novamente confortável. Mesmo que o bebê durma evite deixá-lo na mesma posição por um tempo muito prolongado e mantenha-se atento às vias aéreas. 




Bebê com a cabeça
em posição segura
no pouch sling






Com base na minha experiencia e nas pesquisas que já fiz até então eu sempre indico primeiramente o wrap sling para bebês recém-nascidos. Pelo modo como ele posiciona o bebê e o protege, a grande maioria dos especialistas o considera o sling ideal para esta faixa etária. Contudo, a praticidade do uso e o frescor proporcionados pelo pouch tem atraído cada vez mais familias, que muitas vezes estão tendo contato com os carregadores de pano pela primeira vez e ainda sentem-se perdidos quanto aos benefícios desta ferramenta e seus possíveis riscos. Não pretendo com este post afirmar que o pouch sling é totalmente seguro ou inseguro para o uso com recém-nascidos, mas contribuir com informações que permitam aos cuidadores ponderar sobre a validade de seu uso ou não. 





REFERÊNCIAS:

Denise Gurgel Barboza, Fisioterapeuta Materno-Infantil. 

Marilia Mercer, consultora em babywearing, autora de diversos artigos no site da Babywearing Brasil. 

Andreza Espi Moriggi, pesquisadora sobre Babywearing e fabricante. 

O Sling e a Teoria da Extero-Gestação


A teoria da extero-gestação vem de um conceito apresentado pelo antropólogo Ashley Montagu, e recentemente popularizado pelo pediatra americano Harvey Karp, com o propósito de reconhecer que nossos bebês “não nascem prontos”. Desta imaturidade biológica ao nascer deriva a necessidade vital  dos bebês humanos de apego, contato e proteção de seus cuidadores no mínimo em seu primeiro ano de vida, quiçá no primeiro triênio.

Flávia Mandic traduziu a obra do Dr. Karp, e apresenta o seguinte resumo em sua página Teoria da Extero-Gestação, no Facebook.

“Os bebês humanos estão entre os mais indefesos de todos os mamíferos. Por causa do maior tamanho do cérebro e do fato de que o tecido nervoso necessita de mais calorias para se manter que qualquer outro, grande parte do alimento ingerido é gasto em prover nutrição e calor para as células nervosas. Mais significante é o fato de que nossos bebês necessitam nascer mais cedo do que deveriam, com seus cérebros ainda não totalmente desenvolvidos. Se o bebê humano nascesse já com o sistema nervoso central amadurecido, sua cabeça não passaria pela pelve estreita da mãe no momento do parto. Ao contrário de outros mamíferos, como girafas e cavalos, o recém-nascido humano é incapaz de andar por um longo período após o nascimento, porque lhe falta o aparato neurológico maduro para tanto. O custo primal de ter um cérebro grande é que nossos filhotes nascem extremamente dependentes e em necessidade constante de cuidado.

 O crescimento do nosso cérebro após o nascimento é mais rápido do que o de qualquer outro mamífero e segue neste ritmo por 12 meses.

A seleção natural demanda que pais humanos cuidem de seus filhos por um longo período e que os filhos dependam dos pais. Esta necessidade mútua traduz-se em um estado emocional chamado “apego”.

Em algumas culturas, como na tribo !Kung, bebês raramente choram por longos períodos e não há sequer uma palavra que signifique “cólica”. As mães carregam os bebês junto ao corpo, com um aparato semelhante a um “sling”, mesmo quando saem para a colheita. A relação mãe-bebê é considerada sacrossanta, eles permanecem juntos o tempo todo. O bebê tem livre acesso ao seio materno e vê o mundo do mesmo ponto de observação que sua mãe.

Nossa cultura ocidental não permite um estilo de vida idêntico ao de tribos primitivas, mas podemos tirar lições valiosas sobre como ajudar nossos bebês na adaptação à vida extra-uterina.

Nos primeiros 3 meses de vida, o bebê humano é tão imaturo que seria benéfico a ele voltar ao útero sempre que a vida aqui fora estivesse difícil. É preciso compreender o que o bebê tinha à sua disposição antes do nascimento, para saber como reproduzir as condições intrauterinas. O bebê no útero fica apertadinho, na posição fetal, envolvido por uma parede uterina morninha, sendo balançado para frente e para trás a maior parte do tempo. Ele também estava ouvindo constantemente um barulho "shhhh shhhh", mais alto que o de um aspirador de pó (o coração e os intestinos da mãe).

A reprodução das condições do ambiente uterino leva a uma resposta neurológica profunda "o reflexo calmante". Quando aplicados corretamente, os sons e sensações do útero têm um efeito tão poderoso que podem relaxar um bebê no meio de uma crise de choro.”

Analisando as características das condições intrauterinas podemos facilmente compreender como os slings são instrumentos poderosos em oferecer ao bebê o período de extero-gestação de que ele necessita.

1.      Aconchego
Dentro do sling os bebês ficam embrulhados e apertadinhos como quando estavam dentro da barriga da mamãe. Esta contenção é tão importante para eles que muitas pessoas utilizam o pacotinho feito com um cueiro para enrolá-los e fazê-los dormir.

2.      Posição fetal
A maleabilidade do tecido dos slings permite que o bebê mantenha-se enroladinho em uma posição fisiologicamente mais adequada do que o estiramento proporcionado por carregadores rígidos ou a posição deitada em berços ou carrinhos de bebê. Este enrolamento favorece o desenvolvimento psicomotor, preservando as funções da cadeia muscular flexora, responsável pela maior parte das atividades de um recém-nascido até o terceiro mês de vida: Sugar, deglutir, digerir, levar as mãos ao rosto e começar a relacionar-se cada vez mais com o mundo ao seu redor.

3.      Temperatura
O contato pele-a-pele com o corpo do cuidador mantém o bebê quentinho e menos suscetível às variações de temperatura do ambiente externo, além de favorecer o vinculo com os cheiros e sons do corpo da mamãe, que são verdadeiros calmantes para o bebê. Por isso já é sabido por todos que não existe colo igual ao de mãe!

4.      Balanço
Amarrado ao corpo do adulto os bebês acompanham toda a sua movimentação e podem sentir o balanço assim como quando estavam dentro da barriga. Ao sair para passear com o bebê no sling é muito comum eles adormecerem logo nos primeiros passos da caminhada, assim como é amplamente utilizada a técnica de ninar os bebês, balançando-os no colo, ao colocá-los para dormir.

5.      Barulhos
O meio intrauterino não é silencioso e diversos estudos abordam o desenvolvimento da audição no feto, apontando que desde o quarto mês de gestação o bebê já é capaz de ouvir os sons corporais da mãe (pulsação, respiração, digestão) e a partir do sétimo mês de gestação é capaz de ouvir sons externos. Amarrados no sling os bebês estão expostos à todos os barulhos do ambiente que o cerca e, salvo grandes estrondos, estes sons lhe soam familiares. Observa-se que muitos bebês inclusive adormecem melhor imersos nos chamados “white noises”; barulhos contínuos e uniformes, como o chiado e sons de estática emitidos por alguns eletrodomésticos.

6.      Nutrição
Dentro do útero o bebê é alimentado constantemente, conforme suas necessidades e sem fazer qualquer esforço. Um dos maiores benefícios do sling é favorecer a continuidade deste processo, uma vez que é extremamente fácil amamentar os bebês dentro dele. O sling mantém o bebê em contato direto com o peito da mãe, tendo-o facilmente ao alcance de sua boca, e sendo estimulado pelo cheiro do leite. Sendo assim, o sling é um grande aliado da amamentação em livre-demanda, já que com ele não há hora nem lugar certos para dar de mamar. À qualquer hora e em qualquer lugar o sling oferece uma forma aconchegante e inclusive discreta para se amamentar por aí.

Como inúmeras vezes já vimos acontecer, estudos científicos modernos vem provar o que culturas tradicionais do mundo inteiro já sabiam há séculos. Carregar bebês em pedaços de panos amarrados ao corpo da mãe é um hábito humano ancestral que deriva do conhecimento de todos de que disso depende a nossa sobrevivência.

Agora, quando a sociedade moderna aprender que nem só de ciência e tecnologia se fazem nossos avanços, mas que principalmente de preservação cultural, respeito às raízes e resgate de valores, conhecimentos e práticas tradicionais; aí sim, conseguiremos superar o estágio de mera sobrevivência animal para começar a de fato viver, com todas as potencialidades que a evolução nos traz.




domingo, 22 de maio de 2016

A Ergonomia dos carregadores de bebês



Carregar crianças em slings, kepinas e cangurus, já não é novidade, mas muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre os benefícios e segurança destes acessórios.
De fato, algumas medidas devem ser observadas para que seu carregador seja utilizado corretamente, respeitando a fisiologia do seu bebê e sem oferecer riscos ao seu desenvolvimento.

O primeiro passo é reconhecer se seu carregador é ergonômico ou não. Carregadores não ergonômicos não devem ser utilizados pois posicionam os bebês de forma inadequada à sua maturidade motora, são desconfortáveis e podem prejudicar o desenvolvimento motor forçando a coluna e musculatura sensíveis do bebê a ficarem em posições as quais os bebês ainda não estão prontos para assumir.

Então, como reconhecer se seu carregador é inadequado:


1) Os carregadores não ergonômicos mantem a criança em uma posição ereta. Geralmente o apoio das costas é uma pala dura, que não aconchega o bebê, deixando-o meio solto dentro do carregador.

2) O assento é estreito e concentra o peso do bebê sobre a região pélvica, comprimindo os genitais e deixando as pernas penduradas, sem apoio, prejudicando a circulação sanguínea.


Os carregadores ergonômicos são mais maleáveis e se moldam ao corpo do bebê respeitando sua fisiologia e o posicionamento natural. Podem ser de pano como os slings e kepinas, ou estruturados como os cangurus e mochilinhas ergonômicas, mas sempre oferecem suporte adequado e boa distribuição do peso, sendo mais confortáveis e seguros para os bebês e quem os carrega.


 Para verificar se um carregador é ergonômico, observe que:


1) Os carregadores ergonômicos são flexíveis o suficiente para permitir que o bebê fique arredondado, com a coluna em forma de C, semelhante à posição fetal. Nesta posição o bebê fica aconchegado sem sobrecarregar os ossos e musculatura da coluna que ainda estão se fortalecendo.

2) O assento é largo e oferece apoio para toda a coxa do bebê, indo desde atrás de um joelho ao outro. Desta forma o peso do bebê distribui-se corretamente sem comprimir os genitais, favorecendo a circulação sanguínea nas pernas e tornando o carregador muito mais confortável.


E depois da escolha correta do carregador, certifique-se de que você o está utilizando corretamente. Verifique se as amarrações, argolas, costuras, estão corretas, se o seu bebê está tranquilo e confortável, ou se parece incomodado com algo. Verifique se a altura dele em relação ao seu corpo o permite alcançar o seio, se ainda estiver amamentando, se não há tecidos cobrindo excessivamente o rosto para que ele respire confortávelmente, e se o carregador não está nem apertado nem frouxo demais. 
Durante longos passeios também é indicado retirar o bebê do carregador algumas vezes, para que ele possa se esticar e mudar de posição.

E lembrem-se, pessoinhas delicadas precisam de acessórios delicados. Observe sempre seu bebê e imagine se você também estaria satisfeito e confortável no lugar dele!